Lucélia sempre foi uma excelente atriz. Depois do estrondoso sucesso de “Escrava Isaura”, ela interpretou a Fernanda, uma garota de temperamento explosivo, completamente diferente da escrava submissa da novela anterior, em “Locomotivas”, de Cassiano Gabus Mendes. Fez também muitos filmes como “Engraçadinha” e “Luz Del Fuego”, onde mostrava que não tinha nenhum medo de desafios. Foi este temperamento arrojado e talentoso que me fez criar, só para ela, a Carolina de “Guerra dos Sexos”. Lucélia aceitou o desafio com um brio e coragem invejáveis porque é muito difícil para uma atriz sentir na pele o ódio do público a uma personagem. Lembro-me que, no principio da novela, ela se assustou ao ver a reação das pessoas, antes tão simpáticas e cordiais com ela, mas entendeu que aquela raiva que sentiam da Carolina era despertada única e exclusivamente pelo seu grande talento e poder de convencimento da imensa platéia televisiva. Escrever Carolina para Lucélia Santos foi muito prazeroso e até hoje este personagem é lembrado pelo grande público.
Criei, junto com o Carlos Lombardi, a heroína Silvana em “Vereda Tropical” para que o público voltasse a se apaixonar perdidamente por Lucélia Santos. Achamos que a sua entrega em “Guerra dos Sexos” tinha sido total e resultado em uma vilã tão eficiente para a minha história que uma grande protagonista viria como paga pelo seu enorme empenho em ser má. Levamos em conta, sim, o passado de Lucélia em Santo André, sua origem humilde e seu temperamento batalhador e destemido. Silvana não era uma heroína idealizada, era humana, e daí o seu enorme sucesso junto ao público. O amor que a unia a Luca (Mário Gomes) encantou a todos que, até hoje, tem “Vereda Tropical” como sua novela preferida. Mais uma vez o empenho de Lucélia Santos foi total e o resultado foi excelente para todos envolvidos no projeto.
Silvio de Abreu
Autor da novela “Guerra dos Sexos” e Co-Autor da novela “Vereda Tropical” ao lado de Carlos Lombardi.
(27/09/2004)